Pedreiro de empresa que recebeu R$ 59 milhões do Governo do RJ assina contratos como presidente e ganha R$ 2 mil: 'Faço os dois'

  • 09/12/2024
(Foto: Reprodução)
Antônio Calos declarou à Justiça ter dificuldades de sustentar sua família, mas sua empresa fechou um contrato, sem licitação, de R$ 6 milhões, com a Fundação Saúde. A empresa é suspeita de integrar grupo econômico, com indícios de competição simulada para a disputa de contratos públicos. Pedreiro de empresa que recebeu R$ 59 milhões do Governo do RJ assina contratos como presidente e ganha R$ 2 mil: 'Faço os dois' O pedreiro Antônio Carlos dos Santos Silva, que declarou à Justiça não ter condições financeiras para sustentar sua própria família, é o presidente de uma empresa que recebeu R$ 59 milhões do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A empresa, que fechou recentemente um contrato, sem licitação, de R$ 6 milhões com a Fundação Saúde, é suspeita de integrar um grupo econômico, com indícios de competição simulada para a disputa de contratos públicos. Em contato com a equipe do RJ2, Antônio Carlos afirmou que trabalha na empresa de construção Jesban, com salário bruto de R$ 2 mil. Ele disse acumular as funções de mestre de obra e presidente da empresa. Repórter: "O senhor trabalha na Jesban, certo?" Antônio Carlos: "Sim" Repórter: "A sua função lá é de mestre de obras?" Antônio Carlos: "Sim" Repórter: "É porque o senhor consta para a empresa como presidente dela". Antônio Carlos: "Faço os dois". Na ligação, Antônio Carlos também foi questionado pela reportagem o motivo de ter um salário menor do que de outros funcionários com cargos inferiores ao de presidente. Contudo, ele desligou o telefone nesse momento e não atendeu mais aos contatos feitos pela equipe do RJ2. Em setembro, Antônio Carlos assinou como presidente da Jesban o contrato de R$ 6 milhões com a Fundação Saúde. Mesmo sendo o responsável pela empresa milionária, o pedreiro mora em uma casa humilde, no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, uma região marcada por constantes alagamentos. Presidente ganha menos que seus subordinados A folha de pagamento da Jesban mostra que Antônio Carlos recebe R$ 2 mil por mês. Líquido, o salário do presidente da empresa é de R$ 1,7 mil. Pedreiro de empresa que recebeu R$ 59 milhões do Governo do RJ assina contratos como presidente e ganha R$ 2 mil Reprodução TV Globo Um levantamento feito pelo RJ2 mostra que o presidente da Jesban ganha menos do que vários de seus subordinados na empresa. O "chefe" recebe menos que o serralheiro, o bombeiro gasista, o carpinteiro e bem menos que o engenheiro civil. O salário de Antônio Carlos como presidente é até mais baixo de quem tem a mesma profissão que ele: pedreiro. Suspeita de manipular licitação Na Justiça do Trabalho, a Jesban, presidida por Antônio Carlos, é suspeita de participar de um grupo econômico com outra empresa, a Ágabo. A equipe do RJ2 descobriu que as duas empresas já tiveram o mesmo telefone. Funcionários disseram que elas funcionavam no mesmo lugar. Contudo, essas empresas competiram por contratos da Fundação Saúde. O entendimento de tribunais de contas é de que, quando empresas ligadas entre si participam de uma disputa, há indícios de competição forjada. A Jesban e a Ágabo disputaram a contratação da Fundação Saúde para realizar obras em um hospital no interior do estado. A empresa no nome de Antônio Carlos foi a escolhida, por mais de R$ 4 milhões. Além do endereço e do telefone, as duas empresas possuem outros pontos em comum. As duas têm o mesmo contador, Edilson Conrado Ferreira Junior, que preencheu um relatório do Ministério da Fazenda pela Ágabo. Também é ele que cuida da Jesban na Junta Comercial do Rio. A advogada das duas firmas também é a mesma. Ana Cristina Machado Rodrigues é representante legal das duas empresas. Ela também já defendeu na Justiça o dono da áÁgabo: Márcio de Andrade Feital. O que dizem os citados Em nota, a Fundação Saúde informou que a empresa Jesban cumpre os requisitos e apresentou os atestados de capacidade técnica necessários para a execução dos serviços. o órgão disse ainda que, de acordo com os contratos sociais apresentados à fundação, a Jesban e a Ágabo possuem sócios distintos e funcionam em municípios diferentes. A Fundação Saúde declarou ainda que desde que a nova diretoria assumiu, iniciou a revisão de todos os contratos vigentes. As empresas Jesban e Ágabo não nos responderam, assim como o escritório de contabilidade de Edilson Conrado Ferreira Junior. A reportagem não conseguiu contato com a advogada Ana Cristina Machado Rodrigues e com o empresário Márcio Feital.

FONTE: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2024/12/09/pedreiro-de-empresa-que-recebeu-r-59-milhoes-do-governo-do-rj-assina-contratos-como-presidente-e-ganha-r-2-mil-faco-os-dois.ghtml


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